domingo, 22 de novembro de 2009

Minha relação com a Internacional Situacionista

Minha relação com a Internacional Situacionista
De um grupo de discussão à primeira leitura

Por Luiz Manghi



Era janeiro de 2008 quando a EMTU (atual Grande Recife Consórcio de Transportes) decretou mais um aumento nas tarifas do transporte público. Usuário diário deste serviço, me senti extremamente lesado ao ver a passagem aumentando e a qualidade do transporte estagnada. Quando soube de uma manifestação que ocorreria na Avenida Conde da Boa Vista, não tive dúvida, me dirigi para lá imediatamente após meu estágio, que era até o meio dia. Fui sozinho, mas lá conheci uns figuras interessantes e conversamos muito sobre o que nos levara até ali. Após os protestos deste janeiro se encerrarem e a tarifa não baixar, montamos uma espécie de grupo de discussão de temas políticos em geral e lá tive meu primeiro contato com a palavra “situacionismo”.

Apesar de bastante citada nas reuniões, não dava para ter uma noção bem definida do que era a Internacional Situacionista, e por preguiça não procurei saber mais sobre o assunto. Até que há algumas semanas atrás comprei o livro Situacionista: Teoria e Prática da Revolução (Conrad, 2002). Daí pude entender mais do que se tratava a “sociedade do espetáculo”, quem foi Guy Debord e qual a importância dos situacionistas para os acontecimentos do maio de 68 em Paris, por exemplo. Estes eram os pontos mais citados nos encontros do grupo de discussão, mas outro ponto acabou me surpreendendo mais do que estes: a crítica dos situacionistas à esfera estudantil francesa.

O texto “A Miséria do Meio Estudantil: considerada em seus aspectos econômico, político, psicológico, sexual e, mais particularmente, intelectual. E sobre alguns meios para remediá-la” é um chute no estômago de qualquer estudante e deveria ser leitura obrigatória para todos eles. O mais incrível é a atualidade do texto. Na medida em que eu lia-o, parava e pensava: “incrível como nada mudou”. Os situacionistas cutucam feridas abertas até hoje no meio estudantil: desde o vazio intelectual do movimento estudantil até uma espécie de “menoridade prolongada”, apontada pelos situs (como também são conhecidos os integrantes da Internacional Situacionista) como irresponsável e dócil.

Na “orelha” do livro fica bem claro o propósito da obra: mostrar o verdadeiro caráter da I.S. Segundo os editores do livro “no trabalho de transformar os situacionistas em uma moda intelectual deglutível, tentou-se escamotear de formas diversas o fato básico de que a Intenacional Situacionista pretendia ser uma organização política e tinha como objetivo a ação subversiva contra o capitalismo”, apesar de seu início como movimento crítico da arte e da cultura. E o livro consegue isso, pelo simples mérito de apresentar os textos na íntegra e também pela boa apresentação de Marietta Baderna, que faz um bom panorama geral do que foi a I.S. Ao ler os textos na íntegra não tem como não perceber essa conotação subversiva nos textos situacionistas. A crítica é feita de forma direta a vários setores da sociedade capitalista.

É uma ótima leitura para os interessados em assuntos políticos, principalmente os que têm tendência marxista ou libertária, mas assim como todos os volumes da coleção Baderna, da editora Conrad, é uma obra para iniciantes, e ao término do livro me encontro com mais perguntas do que respostas. Acho isso maravilhoso. O legal é que ao longo de todo o livro eles apresentam textos que servem como complemento para um entendimento mais amplo do tema abordado.

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